O mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) como espécie invasora | The golden mussel (Limnoperna fortunei) as an invasive species
Podemos chamar de espécie-invasora (ainda que o termo gere discussões acadêmicas) aquelas que proliferam facilmente em um novo ambiente sem competidores ou obstáculos naturais que ameacem sua colonização. Estas alteram radicalmente o ecossistema em que se assentam, gerando impactos na geo e biodiversidade, podendo também causar danos significativos à economia local. Muitas das vezes esta se torna a causa de espécies de apelo econômico se tornarem invasoras.
A espécie apresentada nesse artigo, no entanto, não foi introduzida para fins comerciais, mas está ligada ao comércio marítimo. Em 1991 O Mexilhão-Dourado (Limnoperna fortunei), molusco bivalve originário dos rios da China e Sudeste Asiático, foi identificado nas margens do Rio da Prata, Argentina. O mesmo entrou no Brasil pelo Rio Paraguai próximo a cidade de Corumbá, Mato Grosso do Sul em 1998 pela intensa atividade hidroviária nos Rio da Prata - Rio Paraná - Rio Paraguai (ambos parte da Bacia do Prata).
Há registros de que, por volta de 2001 no Lago Guaíba, que engloba cidades do entorno metropolitano de Porto Alegre, por meio da água de lastros de embarcações que aportavam no Guaíba e Lagoa dos Patos, uma segunda população do molusco se desenvolveu.
Em sequência o Mexilhão-Dourado viria a prosperar em diversos corpos d’água pela América do Sul, especialmente rios, córregos, deltas, lagos, lagoas, lagunas de baixa salinidade e represas. O que faz desse bivalve tão bem-sucedido é sua capacidade reprodutiva, uma vez que alcançando-a com 3 a 4 meses de idade, é capaz de produzir uma densidade de 200.000 indivíduos/m². Ele também possui grande resistência às alterações causadas pela atividade humana, colonizando facilmente ambientes já modificados por esta e se anexando a couraça de embarcações.
Com isso o mexilhão acaba por se tornar um “engenheiro de ecossistemas”. Suas populações diminuem a quantidade de partículas orgânicas na coluna d’água e aumentam os níveis de amônia, nitrato e fosfato, impactando o zooplâncton e fitoplâncton, principais agentes responsáveis pela manutenção da produtividade primária em ambientes aquáticos. Eles acabam por se aglomerar nas aberturas das conchas de nossos moluscos nativos causando a morte por inanição ou sufocamento dos mesmos. Em peixes, podem ser encontrados não totalmente digeridos no seu trato digestivo, causando danos internos ou facilitando doenças. Economicamente causam danos por meio de corrosão, entalamento e contaminação anuais com reparos a hélices, filtros, tanques, tubulações e outros sistemas conectados à água de seu habitat.
O controle do Mexilhão-Dourado nos sistemas industriais é muito custoso e aborda uma combinação de métodos físicos e químicos, com jatos de água pressuridas, escovação, choque térmico, hipoclorito de sódio e outros biocidas e polímeros anti-adesivos. Preventivamente filtros mecânicos, telas anti-incrustação e limpeza frequente podem ser realizadas para evitar a proliferação desse organismo.
Aliado a isso é importante o monitoramento contínuo da água no sistema para identificar as larvas e adultos jovens de Limnoperna Fortunei, que são invisíveis a olho nu antes que causem danos, e evitar manutenção emergencial, que além de custosa interrompe as atividades para a remoção do molusco. O organismo da espécie citada pode ser controlado através de análises laboratoriais de detecção e quantificação de Limnoperna Fortunei em sua fase larval e de invertebrados bentônicos, para esse e outros organismos danosos, assim auxiliando empresas a identificar e prevenir casos de infestação além de monitorar a eficácia de tratamentos.
Limnoperna fortunei.
Limnoperna fortunei fase larval.
Gabriel Felipe Ludwig Prust
Tec. de Laboratório da Ecobio - Freitag Laboratórios
REFERÊNCIAS:
MARANGONI, Danilo Henrique Monteiro; ASSIS, Paulo Santos; PELLI, Afonso. Características gerais do bioinvasor Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) / General characteristics of the bioinvader Limnoperna fortunei (Dunker, 1857). Instituto de Ciências Biológicas e Naturais, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba/MG, 2022. Disponível em: https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/acbioabras/article/view/7222. Acesso em: 20 de maio de 2025.
IN ENGLISH
We can refer to an invasive species (although the term is debated in academic contexts) as one that proliferates easily in a new environment without natural competitors or barriers that could limit its colonization. These species can radically alter the ecosystems they inhabit, generating impacts on both geodiversity and biodiversity, and may also cause significant damage to the local economy. In many cases, such invasions stem from species of economic interest that become invasive outside their native range.
The species presented in this article, however, was not introduced for commercial purposes, but is linked to maritime trade. In 1991, the golden mussel (Limnoperna fortunei), a bivalve mollusk native to rivers in China and Southeast Asia, was first identified along the banks of the Río de la Plata in Argentina. It entered Brazil through the Paraguay River near the city of Corumbá, Mato Grosso do Sul, in 1998, due to intense river transport activity along the Río de la Plata–Paraná–Paraguay system, all part of the La Plata Basin.
Records indicate that around 2001, a second population of the mussel developed in Guaíba Lake, which includes several municipalities in the metropolitan area of Porto Alegre. This introduction likely occurred through the ballast water of vessels docking in the Guaíba and Patos Lagoon systems.
Subsequently, the golden mussel spread successfully across various water bodies throughout South America, especially rivers, streams, deltas, lakes, lagoons, brackish water environments, and reservoirs. Its success as an invasive species lies in its high reproductive capacity: reaching maturity within 3 to 4 months, it can produce densities of up to 200,000 individuals per square meter. It is also highly resistant to environmental changes caused by human activities, easily colonizing modified environments and attaching itself to ship hulls and other submerged structures.
As a result, the mussel becomes what is known as an “ecosystem engineer.” Its populations reduce the amount of organic particles in the water column and increase levels of ammonia, nitrate, and phosphate, thereby impacting zooplankton and phytoplankton—key agents responsible for maintaining primary productivity in aquatic ecosystems. They also attach themselves to the shells of native mollusks, causing their death by starvation or suffocation. In fish, undigested individuals can be found in the digestive tract, causing internal injuries or facilitating disease. Economically, Limnoperna fortunei causes damage through corrosion, clogging, and contamination, requiring frequent maintenance and repairs to propellers, filters, tanks, pipelines, and other water-connected systems.
Controlling the golden mussel in industrial systems is highly costly and involves a combination of physical and chemical methods, including high-pressure water jets, brushing, thermal shock, sodium hypochlorite, other biocides, and anti-adhesive polymers. Preventive measures such as mechanical filters, anti-fouling screens, and frequent cleaning can be implemented to minimize proliferation.
In addition, continuous water monitoring is essential to detect larvae and juvenile Limnoperna fortunei, which are invisible to the naked eye, before they cause damage and to avoid emergency maintenance, which is expensive and disrupts operations. This species can be monitored and controlled through laboratory analyses that detect and quantify Limnoperna fortunei in its larval stage and among benthic invertebrates. Such analyses help companies identify and prevent infestations and assess the effectiveness of treatment and control measures.
Limnoperna fortunei.
Limnoperna fortunei larval stage.
Gabriel Felipe Ludwig Prust
Laboratory Technician at Ecobio - Freitag Laboratories
References
MARANGONI, Danilo Henrique Monteiro; ASSIS, Paulo Santos; PELLI, Afonso. General characteristics of the bioinvader Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) / Características gerais do bioinvasor Limnoperna fortunei (Dunker, 1857). Instituto de Ciências Biológicas e Naturais, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brazil, 2022. Available at: https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/acbioabras/article/view/7222. Accessed on: May 20, 2025.